A disputa pela presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem tudo para ser uma das mais acirradas das últimas décadas.
Se na reeleição de Ednaldo Rodrigues (afastado do cargo, por decisão da Justiça) o clima era de consenso, o cenário agora é marcado por uma forte divisão.
De um lado estão as federações, que apoiam em peso a candidatura de Samir Xaud, de Roraima. Do outro estão os clubes, que endossam Reinaldo Carneiro Bastos, de São Paulo.
A eleição está marcada para o próximo domingo (25), mas ainda pode sofrer uma alteração de data.
Quem apoia quem
Na tarde deste sábado (17), a Liga Forte União (LFU) e a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) divulgaram comunicado assinados por 32 clubes, em apoio a Reinaldo.
São eles: Amazonas, América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Bahia, Botafogo-SP, Chapecoense, Coritiba, Corinthians, CRB, Criciúma, Cruzeiro, Cuiabá, Ferroviária, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Mirassol, Novorizontino, Operário-PR, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo, Sport, Vila Nova e Vitória.
Desses, 16 são da Série A e 16 estão na B. Na eleição da CBF, os times da primeira divisão têm peso 2, enquanto os da segunda possuem peso 1.
Significa, portanto, que Reinaldo teria 48 votos garantidos nesse cenário. Da Série A, não assinam o documento Palmeiras, Vasco, Botafogo e Grêmio.
Até o período da manhã, Samir contava com 19 federações, em um universo de 27: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Sergipe.
São as mesmas que assinaram o manifesto a favor da renovação no comando da CBF. Considerando que as federações possuem peso 3 na eleição, Samir teria, inicialmente, 57 votos.
Haveria, portanto, uma margem para Reinaldo manobrar e conquistar apoios das oito entidades restantes. Se esse cenário se materializasse, o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) teria condições de alcançar mais 24 votos, totalizando 72, contra 69 de seu adversário.
Uma questão jurídica, porém, pode fazer com que essa disputa entre os dois candidatos nem mesmo venha a ocorrer.
Estatuto
A decisão do desembargador Gabriel Zefiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF, também anulou a assembleia da entidade, realizada em 2022.
Com isso, o estatuto em vigor passa a ser o de 2017. O documento de 2022 exige que, para se candidatar à presidência da CBF, um candidato deveria reunir apoios de quatro federações e quatro clubes das Séries A ou B do Brasileirão.
Já o de 2017 torna mais complicado esse processo, pois prevê que o postulante deve contar com os endossos de oito federações e de cinco clubes das duas principais divisões nacionais.
E é nesse detalhe que as coisas se complicam para Reinaldo. Em entrevista concedida por telefone à Máquina do Esporte, Samir garantiu haver conquistado os apoios de mais três federações, as do Amapá, Bahia e Espírito Santo.
Pela regra de 2017, o presidente da FPF não teria condições de sequer registrar sua candidatura. Se isso ocorrer, a eleição da CBF seria com candidatura única.
Ainda que o estatuto de 2022 voltasse a valer, Reinaldo não teria condições de vencer, pois somaria no máximo 63 votos (isto se conseguisse reunir, de fato, cinco federações), contra 78 do adversário.
Neste sábado, Samir solicitou que a data da eleição seja adiada para 26 de maio, uma segunda-feira.
“Fizemos este pedido para a comissão eleitoral com o intuito de facilitar a participação dos clubes, já que muitos jogam no domingo”, justificou Samir. A solicitação ainda será analisada por Fernando Sarney, interventor da CBF.
Trabalhar por liga unificada
À Máquina do Esporte, Samir afirmou que, inicialmente, não tinha intenção de se lançar candidato. Mas, de acordo com ele, as federações estaduais formaram um bloco sólido, em meio à crise que se abateu sobre a CBF.
Entre os nomes que passaram a ser cogitados para suceder Ednaldo, o dele ganhou força, devido ao bom trânsito que possui junto às demais federações.
Samir disse que, se eleito, pretende implantar um modelo de gestão descentralizado e participativo, em que federações e clubes serão chamados para debater as questões da CBF.
“Eu apoio a criação de uma liga unificada e forte no futebol brasileiro. Temos um produto grande, mas que não está sendo bem trabalhado. Vamos nos esforçar para que essa união ocorra e os clubes possam desenvolver a liga”, afirmou Samir.
Na seleção brasileira, que recentemente contratou o técnico italiano Carlo Ancelotti, a intenção do dirigente é fortalecer a diretoria responsável pelo setor.
“Os diretores da área terão autonomia e liberdade para trabalhar. Conversamos com Ancelotti e procuramos passar a ele toda segurança e a garantia de que vamos honrar o contrato firmado”, disse.
Samir também afirmou que pretende submeter os atuais contratos publicitários da CBF a uma análise minuciosa, caso venha a ser eleito.
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