O Corinthians atravessa tempos complexos, que ultrapassam a célebre máxima do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, segundo a qual ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois nem o rio nem a pessoa são mais os mesmos.
Em meio ao caos político, o Timão tem convivido com trocas e retornos quase diários em seus cargos de gestão.
Na última sexta (30), por exemplo, Vinicius Manfredi de Azevedo reassumiu como superintendente de marketing do clube.
O retorno do profissional ocorreu cerca de um mês após sua saída, quando o então presidente Augusto Melo optou por delegar o cargo ao diretor estatutário Wanderson Salles.
Azevedo havia ocupado a superintendência de marketing do Corinthians entre junho de 2024 e abril deste ano.
Ele assumiu a função, à época, em substituição a Sérgio Moura, que se desligou do cargo em meio ao escândalo envolvendo a intermediação no contrato com a ex-patrocinadora máster VaideBet, situação que acabou custando a própria cabeça do presidente Melo.
Caos na presidência
O Corinthians viveu momentos de indefinições neste último fim de semana. No mesmo dia em que Azevedo retornou ao marketing do clube, Augusto Melo iniciou uma manobra política e jurídica para tentar retornar à presidência, após ter sido afastado do cargo pelo Conselho Deliberativo, em uma decisão sacramentada na última segunda-feira (26).
Na sexta (30), a Comissão de Ética e Disciplina protocolou o pedido de afastamento de Romeu Tuma Júnior da presidência do Conselho Deliberativo do clube. O ex-deputado estadual e delegado de polícia aposentado foi o principal articulador do impeachment de Melo, aprovado pelo órgão.
O afastamento aprovado pela Comissão de Ética tomou por base uma representação feita pelo presidente afastado em abril deste ano, mas que só veio a público nesta semana.
Na reunião realizada em 9 de abril, votaram a favor do afastamento de Tuma Júnior três membros da Comissão: o relator Mario Mello Junior e ainda Ronaldo Fernandez Tomé e Paulo Juricic. Já Rodrigo Vicente Bittar optou por se posicionar contra o pedido.
O presidente da Comissão de Ética e Disciplina, Roberson de Medeiros, não participou nem dessa nem da segunda votação, que avaliou se o afastamento de Tuma Júnior teria efeito imediato ou se precisaria antes ser ratificado pelo Conselho Deliberativo.
Após um impasse (a questão estava empatada em 2 a 2), Juricic reformulou o voto, entendendo que o afastamento do presidente do Conselho passaria a valer imediatamente.
Estava criado o cenário para que o caos se instalasse na presidência do clube que tem a segunda maior torcida do país.
Quem é o presidente?
Além de presidir a Comissão de Ética e Disciplina, Roberson de Madeiros também é vice-presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians.
Segundo o portal GE, ele estaria sob licença médica. Diante disso, Maria Angela de Souza Ocampos, que ocupa a primeira-secretaria do Conselho Deliberativo, declarou-se a nova presidente do órgão. Sua primeira decisão oficial foi anular todos os atos tomados por Tuma Júnior a partir de 9 de abril, incluindo o impeachment de Melo.
No sábado (31), por volta das 18h30, o presidente afastado foi até o Parque São Jorge, em São Paulo (SP), acompanhado de apoiadores, para tentar reassumir o cargo, atualmente ocupado pelo interino Osmar Stabile.
A situação ficou tensa, sobretudo depois da chegada de membros da Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar precisou ser acionado. Apenas quatro horas depois é que os ânimos enfim se acalmaram.
Ao pronunciar-se sobre o caso, Tuma Júnior classificou a situação como uma “patética tentativa de golpe”.
Melo, por sua vez, afastou a possibilidade de golpe e disse que foi recolocado de volta na presidência pelo Conselho Deliberativo.
Osmar Stabile e seus aliados, por sua vez, entendem que o documento apresentado por Melo para tentar reaver o cargo não possui valor jurídico e que, portanto, o interino segue à frente do Corinthians.
A Assembleia Geral que selará o destino de Augusto Melo no clube está agendada para o dia 9 de agosto.
