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Clubes usam ligas para “peitar” CBF com mesmas reivindicações de 2021

by Agência Hotz

A eleição do médico Samir Xaud, de Roraima, como novo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) está mais que encaminhada.

Porém, o clima nas altas cúpulas do futebol do país está longe de ser de consenso. A candidatura única de Samir representou a reafirmação do poderio das federações estaduais, que possuem peso muito maior que o dos times no processo eleitoral da CBF.

Enquanto praticamente todas as entidades estaduais (exceto as de Mato Grosso e São Paulo) fecharam com o médico de 41 anos, os clubes apoiaram em peso Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), que não pôde sequer se registrar como candidato, pois não conseguiu reunir a quantidade necessária de assinaturas prevista no estatuto de 2017 da CBF.

Na noite desta segunda-feira (19), a Liga Forte União (LFU) publicou em suas redes sociais um manifesto em que clubes exigem alterações na estrutura na CBF.

O documento não é assinado por nenhum time ou entidade. A Máquina do Esporte apurou que o conteúdo tem apoio da Liga do Futebol Brasileiro (Libra).

No último sábado (17), quando Reinaldo ainda articulava sua candidatura, a LFU e a Libra também lançaram um manifesto buscando enfatizar a relevância dos clubes para o futebol brasileiro.

O texto trazia assinaturas de 32 equipes favoráveis ao presidente da FPF. Desta vez, porém, nenhum time assina o manifesto.

No sábado, grande parte dos clubes signatários publicou o manifesto pró-Reinaldo nas redes sociais. O novo documento, em contrapartida, não foi repercutido pela maioria dos times, exceto o Avaí, que o disponibilizou em suas redes.

De um modo geral, os clubes têm optado pelo silêncio diante das movimentações que deverão culminar na eleição de Samir. O próprio Reinaldo, por ora, vem se mantendo calado, frente ao desenrolar dos fatos.

Quais as exigências das ligas?

No manifesto divulgado nesta semana, os clubes exigem mudanças na estrutura da CBF, a começar pelo processo eleitoral.

Hoje, clubes da Série A têm peso 2 na votação, enquanto os da B têm peso 1. Já federações estaduais têm peso 3.

O registro de candidaturas exige maior quantidade de assinaturas de representantes de federações (oito, no total), em comparação às dos times (apenas cinco).

Um dos pontos principais cobrados no documento é que a CBF assuma o compromisso de criação de uma liga unificada no país e o reconhecimento de que as propriedades comerciais das Séries A e B pertencem aos clubes.

Leia a íntegra da nota divulgada pela LFU em nome dos clubes brasileiros:

OS CLUBES ENTRARAM EM CAMPO PARA UM NOVO FUTEBOL NO BRASIL.

O futuro do futebol brasileiro é inegociável para nós. E os Clubes brasileiros estão juntos, mobilizados e conscientes de que este momento, de mais uma eleição conturbada para a escolha da próxima liderança à frente da Confederação Brasileira de Futebol, demanda ações e medidas objetivas de transformação, transparência e modernização do nosso futebol. Por isso os Clubes exigem que a CBF avance com prioridade e urgência nos seguintes pontos:

  1. Alteração do processo eleitoral, especialmente no que se refere ao peso dos votos;
  2. Obrigatoriedade da participação dos Clubes em todas as Assembleias Gerais da CBF;
  3. Compromisso de criação da Liga e reconhecimento de que as propriedades comerciais das Séries A e B pertencem aos Clubes;
  4. Alteração das regras de governança, dando efetivamente poder executivo à Comissão Nacional de Clubes;
  5. Profissionalização da arbitragem garantindo dedicação exclusiva dos árbitros das séries A e B, e investimento em treinamento permanente;
  6. O calendário do ciclo 2026-2030 precisa ser aprovado por Libra e LFU em conjunto com CBF;
  7. Fomento e apoio financeiro especialmente direcionado às Séries B, C e D assim como ao Futebol Feminino;
  8. Estabelecimento de regras de “Fair Play” financeiro.

Estamos em campo e estaremos juntos e unidos por um futebol brasileiro cada vez mais forte.

SEM CLUBE NÃO EXISTE FUTEBOL.”

Reivindicações são quase as mesmas de quatro anos atrás

Muitos talvez não se recordem, mas esta não é a primeira vez que clubes brasileiros tentam colocar a CBF contra as cordas.

Em 2021, 19 clubes da Série A assinaram um manifesto entregue à CBF, com exigências muito semelhantes às atuais, incluindo a mudança nas regras eleitorais e a criação imediata da liga. À época, apenas o Sport ficou de fora.

Os dirigentes envolvidos nessa mobilização propagaram à imprensa que a suposta nova liga poderia assumir a organização das Séries A e B do Brasileirão já em 2022.

Como se sabe, a liga não saiu, já que os clubes acabaram se dividindo em dois grupos, que, apesar dos recentes acenos e movimentos conjuntos realizados, ainda não conseguiram se unir formalmente.

A CBF seguiu organizando o Brasileirão e firmando contratos cada vez mais lucrativos, envolvendo propriedades publicitárias da competição.

E, mesmo não tendo nenhuma daquelas demandas atendidas, 40 clubes da Série A e B (inclusive signatários do manifesto de 2019) apoiaram de maneira unânime a reeleição de Ednaldo Rodrigues como presidente da CBF.

Entre as novas reivindicações contidas no documento atual estão questões como fair play financeiro, profissionalização da arbitragem, apoio financeiro às Séries B, C e D e ao futebol feminino e a participação de LFU e Libra na aprovação do calendário do futebol brasileiro.

Confira a nota de 2021 na íntegra:

Por unanimidade dos presentes, 19 Clubes da Série A do Futebol Brasileiro – em razão de diversos acontecimentos que vêm se acumulando ao longo dos anos e que revelam um distanciamento total e absoluto entre os anseios dos clubes que dão suporte ao futebol profissional brasileiro e a forma como que é gerida a CBF – reunidos nesta data, decidiram adotar postulações e resoluções na forma abaixo elencada:

1. Requerer a imediata alteração estatutária que consagre uma maior participação dos Clubes nas decisões institucionais e na gestão da CBF, admitindo-se os clubes como filiados desta entidade;

2. Dentre os itens desta alteração estatutária, necessariamente deve ser incluída a votação igualitária nas eleições para escolha do Presidente e Vice-Presidentes da CBF, sendo certo que Federações e Clubes das Séries A e B terão seus votos contados de forma unitária e com o mesmo peso entre si;

3. Ainda no que se refere à alteração estatutária, inclui-se o fim dos requisitos mínimos para inscrição nas chapas concorrentes à eleição desta entidade, abolindo-se a necessidade de apoio de 8 (oito) federações e 5 (cinco) Clubes, permitindo-se o lançamento de chapas que tenham o apoio expresso de, ao menos, 13 eleitores independente de serem clubes ou federações;

4. Comunicar a decisão da criação imediata de uma Liga de futebol no Brasil, que será fundada com a maior brevidade possível e que passará a organizar e desenvolver economicamente o Campeonato Brasileiro de Futebol. Além dos Clubes signatários, os Clubes da Série B serão convidados a integrara a Liga.

Os clubes adotarão medidas efetivas para consumar a sua associação, para, de forma organizada, exercerem a administração do futebol brasileiro e do seu calendário.”

Quem ficou de fora do novo manifesto

Apesar de falar em nome dos clubes brasileiros de maneira genérica, o documento divulgado pela LFU não é endossado por todos os times das Séries A e B.

Segundo apurou a Máquina do Esporte, equipes que declararam apoio à candidatura de Samir chegaram a ser procuradas para que assinassem o manifesto com as reivindicações.

Os dirigentes, porém, decidiram não endossar o documento, evitando, assim possíveis desgastes com a futura cúpula da CBF.

O apoio dos clubes à candidatura de Samir, em muitos casos, foi costurado por presidentes das federações estaduais, principais sustentáculos do médico.

Um dirigente ouvido pela reportagem disse que nem mesmo chegou a ser procurado por Reinaldo, no período em este tentava se viabilizar como candidato.

O manifesto em apoio ao presidente da FPF, divulgado no sábado, teria chegado a “toque de caixa”, fato que teria tornado inviável qualquer possibilidade de composição.

À essa altura, por outro lado, nos bastidores do futebol já era visível que Samir seria o favorito, o que levou os dez clubes a permanecerem ao seu lado no processo eleitoral.

Leila Pereira

Entre os clubes que se recusaram a endossar tanto o manifesto em favor de Reinaldo quanto o documento com as exigências feitas à CBF, o Palmeiras foi o caso mais comentado.

A presidente Leila Pereira deu declarações públicas a favor de Samir, alegando que o candidato apoia causas que ela defende, como fair play financeiro.

A dirigente do Alviverde tem estreitado suas relações com o círculo de poder, não apenas no futebol, mas na política de um modo geral.

Até a semana passada, ela era vista como uma das principais aliadas de Ednaldo Rodrigues, tanto que foi escolhida para representar o Brasil no 75º Congresso da Federação Internacional de Futebol (Fifa).

Ednaldo, convém lembrar, sempre possuiu fortes vínculos com o Governo Federal, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A liminar que o devolveu ao cargo na CBF, no ano passado, foi obtida graças a uma articulação jurídica feito pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), que integra a base aliada do petista.

Os movimentos recentes de Leila, hoje convertida em uma das maiores fiadoras da candidatura de Samir, indicam que a tendência será ela evitar qualquer desgaste com o poder político, pelos próximos meses.

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