Os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro tiveram um aumento considerável de receita em 2024. Segundo o Relatório Convocados/Outfield, com patrocínio da Galapagos Capital, os times da elite do futebol nacional arrecadaram um total de R$ 10,206 bilhões (média de R$ 510,3 milhões por equipe).
Houve um aumento de 10,2% em relação ao que havia sido arrecadado no ano anterior. Se compararmos com 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19, o crescimento em cinco anos chega a 35%.
“O futebol brasileiro vive uma contradição. Crescemos em faturamento, vemos um mercado mais profissional e com mais investidores olhando para o setor, mas seguimos operando com risco elevado”, afirmou Cesar Grafietti, economista responsável pelo estudo.
De fato, tal período de bonança, em vez de ajudar os gestores das principais agremiações do país a equalizarem receitas e despesas, fez com que as dívidas é que aumentassem significativamente.
O montante atual chegou a R$ 14,6 bilhões ao final da temporada, o que dá uma média de R$ 710 milhões por time. Grafietti faz um paralelo com 2014, quando o fenômeno do aumento de dívidas também havia sido relevante.
“Eis que ao analisar os números de 2024 fico com a mesma sensação de 2014. O dinheiro aumentou, e, ao invés de servir para equacionar problemas, foi um indutor deles: mais investimentos, mais gastos, mais dívidas, em um país cuja taxa de juros básica é estruturalmente alta”, explicou.
“Regredimos 11 anos. Nesse período, não aprendemos nada, e não esquecemos nada”, acrescentou Grafietti, referindo-se à gastança desenfreada dos clubes, contribuindo inclusive para o inflacionamento do mercado da bola.
Vendas
O aumento do faturamento também não dá uma esperança de sustentabilidade financeira aos clubes. Um total de 23% da arrecadação dos times da elite veio com venda de atletas (R$ 2,3 bilhões).
Na chamada receita não recorrente, já que não dá para prever quando um clube conseguirá fazer uma boa venda, houve crescimento de 31% em relação a 2023.
“A dependência da venda de atletas para fechar as contas é um sinal claro de que a operação recorrente dos clubes não se sustenta. É um modelo que cresce, mas cresce no limite”, analisou Grafietti.
Nesse quesito, nenhum clube foi tão bem-sucedido quanto o Palmeiras, que negociou duas joias da base para o futebol inglês. Estêvão irá para o Chelsea após o Super Mundial de Clubes, em julho, por € 61,5 milhões. Já Luis Guilherme foi negociado com o West Ham por € 30 milhões.
Por outro lado, as contratações também foram inflacionadas. No total, foram investidos R$ 3,4 bilhões em contratação de atletas. Ou seja, no balanço entre vendas e aquisições, os times nacionais viram um prejuízo de R$ 1,1 bilhão.
O Botafogo realizou o maior investimento da história do futebol brasileiro. Para tirar do Atlanta United o argentino Thiago Almada, peça fundamental nas conquistas do Brasileirão e da Libertadores em 2024, o clube pagou R$ 137,4 milhões.
O Flamengo, por sua vez, trouxe Carlos Alcaraz do Southampton por R$ 110 milhões. Ambos já foram negociados e não atuam mais no futebol brasileiro.
Já o Palmeiras contratou o atacante Paulinho por R$ 115 milhões, na maior negociação doméstica da história do país. O negócio foi finalizado em 31 de dezembro, contribuindo para diminuir o rombo financeiro do Atlético-MG na última temporada.
Receitas recorrentes
Três clubes ultrapassaram a barreira do R$ 1 bilhão em arrecadação em 2024: Flamengo (R$ 1,287 bilhão), Palmeiras (R$ 1,128 bilhão) e Corinthians (R$ 1,120 bilhão). Desse montante, porém, o time rubro-negro obteve 94% em receitas recorrentes. O Timão veio um pouco atrás, com 76%.
Já o Palmeiras dependeu excessivamente da negociação de atletas para atingir esse montante: 45% do que ganhou veio de negociações no mercado da bola.
Para este ano, o clube também deve obter bons números, já que negociou Vitor Reis com o Manchester City por € 37 milhões, na mais cara transação do futebol brasileiro para um zagueiro.
Aposta na aposta
Outra forma de arrecadação significativa em 2024 foi o patrocínio das casas de apostas. Os clubes da Série A ganharam R$ 579 milhões em acordos comerciais com esse segmento da economia. O montante representou 28% da receita comercial das equipes ou 7% de tudo o que os times ganharam em 2024.
A tendência se repetirá em 2025, primeiro ano em que o segmento está totalmente regulamentado pelo Governo Federal. Segundo o Relatório Convocados, a estimativa é de que os times faturem, nesta temporada, R$ 988 milhões com patrocínios de apostas.
Ou seja, a expectativa é de que haja um aumento de 71% no investimento das plataformas de jogos de azar nos times da primeira divisão brasileira.

Receitas comerciais
Inflados pelos investimentos das apostas no futebol, 16 dos 20 principais times brasileiros tiveram crescimento nas receitas com acordos comerciais. As exceções foram Red Bull Bragantino, Athletico-PR, Grêmio e Vasco, que conseguiram menos receita com patrocínios.
Ainda assim, apenas o time de Bragança Paulista (SP) viu uma queda significativa de receitas nesse segmento (46%). As quedas dos demais foram baixas: Grêmio (10%), Athletico-PR (8%) e Vasco (2%).
Os destaques foram os clubes com as duas maiores torcidas do Brasil. O Flamengo, campeão da Copa do Brasil 2024, liderou a classificação nessas receitas, obtendo R$ 418 milhões em 2024. Isso representou um crescimento de 65% no ano.
Já o Corinthians ficou em segundo lugar nesse ranking, ganhando R$ 290 milhões. No entanto, o incremento de receita no comparativo com 2023 foi maior: 77%.
Despesas
Dos 20 times da Série A em 2024, 19 viram crescer suas despesas ao longo da temporada. A exceção foi o Botafogo, em que há uma estimativa de que houve queda de 9% nos custos no ano passado, embora esse dado não esteja claramente mostrado no balanço financeiro do clube.
Os custos totais chegaram a R$ 7,808 bilhões, valor recorde desde que o estudo é realizado. Considerando-se os 20 times, houve um aumento de 6% nas despesas.
Houve também um impacto financeiro forte para os clubes que subiram à primeira divisão em 2024: Juventude (148%), Criciúma (118%), Vitória (96%) e Atlético-GO (45%). No entanto, esse aumento não está restrito a esses times, com menor poder de arrecadação em relação aos gigantes do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Impulsionados por investidores que haviam adquirido suas SAFs, Bahia (82%) e Cruzeiro (58%) também aumentaram bastante suas despesas, boa parte delas para melhorar o nível competitivo de seus elencos.
Decorrente disso, entre as despesas inflacionadas enfrentadas pelos clubes da Série A estão os gastos com a folha de pagamento. Foram desembolsados R$ 5,1 bilhões com salários. Ou seja, os clubes desembolsaram 50% de tudo o que ganharam ao longo do ano com folha de pagamento.
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