Magalhães Pinto, que ocupou cargos públicos importantes em Minas Gerais, incluindo os de governador e senador, tornou-se célebre, e não apenas por haver cedido seu nome ao Estádio do Mineirão. Ele é o autor de máximas que descrevem muito bem o jogo do poder. Uma delas afirma que “a política é como uma nuvem”.
Ednaldo Rodrigues teve a chance de experimentar o dissabor dessa verdade. Em março, posava triunfal ao lado de cartolas das federações estaduais e dos clubes, após ter sido reeleito por unanimidade para mais um mandato à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Mas, nesta sexta-feira (16), pouco mais de 15 horas após ter sido afastado da presidência da entidade máxima do futebol brasileiro por uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Ednaldo acordou (se é que conseguiu dormir) com a notícia do abandono em massa de sua barca.
Ao todo, 19 federações estaduais assinaram um documento intitulado “Manifesto pela estabilidade, renovação e descentralização do futebol brasileiro”.
Nele, a cartolagem, que antes vertia elogios rasgados a Ednaldo, agora alega que é preciso “resgatar a autonomia interna da CBF, hoje sufocada por uma estrutura excessivamente centralizada e desconectada das instâncias que compõem o ecossistema do futebol nacional”.
Os 19 signatários do documento afirmam que trabalharão pela “construção de uma candidatura comprometida com um novo ciclo para o futebol brasileiro”.
A situação representa um golpe quase fatal para Ednaldo, pois representa a perda de apoio naquele que vinha sendo o núcleo duro fiador de seu poder.
Não se pode esquecer, aliás, de que ele próprio se projetou na política esportiva a partir de uma federação, no caso a da Bahia.
Conforme noticiou a Máquina do Esporte, a revolta dos dirigentes estaduais tem a ver com cerca de 40 mudanças que Ednaldo promoveu no estatuto da CBF, esvaziando as atribuições dos vices e da própria diretoria.
Por outro lado, os próprios presidentes de federações passaram a estar sob um holofote inconveniente, depois que a revista Piauí publicou uma reportagem expondo as benesses concedidas por Ednaldo aos cartolas (incluindo salários turbinados), por ocasião de sua reeleição.
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Como fica o jogo do poder
Assinam o documento os presidentes das entidades do Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Sergipe.
Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), é a principal ausência notada entre os signatários. No ano passado, vale lembrar, ele chegou a articular publicamente uma tentativa de candidatura à CBF, após Ednaldo haver sido afastado judicialmente do cargo pela primeira vez.
Desta vez, a Máquina do Esporte apurou que o dirigente paulista optou por não assinar alegando estar em viagem.
Apesar da postura mais discreta neste novo episódio, Carneiro Bastos continua a ser considerado, nos bastidores, como o nome mais forte no páreo, sobretudo por conta do forte trânsito com federações e clubes.
Vale lembrar que, na eleição para presidente da CBF, os votos das federações têm peso 3. Clubes da Série A têm peso 2, enquanto os da Série B têm peso 1.
Hoje, a eventual candidatura de Carneiro Bastos à presidência enfrentaria dois obstáculos. O primeiro seria de Flavio Zveiter, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que é próximo a Fernando Sarney, vice-presidente mais longevo da CBF e que foi nomeado pelo TJ-RJ como interventor da entidade, responsável por convocar com urgência novas eleições presidenciais.
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Tábua de salvação em Brasília
Outro entrave para um possível voo presidencial de Carneiro Bastos reside no bom trânsito que Ednaldo ainda possui em Brasília.
Isso ficou evidente nas vezes em que o Supremo Tribunal Federal (STF) salvou o pescoço do presidente da CBF, com liminares e sentenças que ajudaram a mantê-lo no cargo.
Nos últimos dias, porém, essa abertura pode ter ficado abalada, depois que a imprensa divulgou a notícia sobre os cursos que o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), do qual o ministro Gilmar Mendes é sócio, ofereceu na CBF Academy, durante a gestão de Ednaldo.
Mendes deu declarações negando a existência de conflito de interesse, mas não se sabe, a partir de agora, como será o desempenho de Ednaldo no STF, que, por sinal, analisará o recurso do cartola, em relação à decisão do TJ-RJ que o afastou do cargo.
Por obra da fortuna ou do acaso, o recurso será analisado por ninguém menos que Gilmar Mendes.
Ednaldo tem boa proximidade com o PT e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Com o Brasil em meio à organização da Copa do Mundo Feminina de 2027, que será liderada pela CBF, o cartola pode buscar no Palácio do Planalto meios para se sustentar no poder.
Resta saber, porém, se, às vésperas de uma eleição para a presidência da República, Lula e seu governo estarão dispostos a pôr a mão no vespeiro do futebol.
Batalha nos tribunais
Na noite desta quinta-feira (15), a defesa de Ednaldo Rodrigues apresentou o recurso ao ministro Gilmar Mendes, do STF, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que manteve o dirigente no poder. A ADI será julgada pelo Pleno do STF no próximo dia 28 de maio.
No pedido, assinado pelos advogados Gamil Föppel, André Mattos e Lucas Ribeiro, a defesa de Ednaldo pede a suspensão dos efeitos da decisão do desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro, que determinou a destituição do presidente da CBF e a nomeação do interventor Fernando Sarney.
No caso de Gilmar Mendes não acolher o pedido da defesa, a petição quer que ao menos seja reconhecido que Fernando Sarney não poderia ter sido nomeado interventor, já que, pelo estatuto da CBF, em caso de vacância no cargo, a nomeação deve ser do diretor mais velho, no caso, Hélio Menezes.
Qualquer que seja a decisão do ministro do STF, os advogados de Ednaldo pedem que a deliberação seja remetida com urgência ao TJ-RJ e ao desembargador Zefiro “para que se abstenham de praticar ou dar seguimento a qualquer ato jurisdicional que importe em nova intervenção na gestão da CBF ou na substituição de seus dirigentes eleitos” até a decisão definitiva do caso, pelo Pleno do STF.
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